História do Judô
Jigoro Kano nasceu a 28 de Outubro de 1860, em Hamahigashi, vila de Mikage – hoje parte da cidade de Kobe – Prefeitura de Hyogo, Japão.É o terceiro de uma família de três homens e duas mulheres. Nos seus primeiros anos de vida, era fraco fisicamente. Herdou o apelido, Kano, de sua mãe Sadako, que era a filha a mais velha de um rico fabricante de cerveja de Nada, Prefeitura de Shiga. Uma vez que não havia um filho varão para herdar o negócio da família e para fazer perdurar o nome da família, quando Jirosaku a desposou consentiu em tornar-se membro da casa de Kano passando a usar o nome de família da sua noiva.
Quando Jigoro tinha, em 1869, somente nove anos, a sua adorada mãe faleceu e Jirosaku Kano decidiu-se mandar o seu filho Jigoro, acompanhado pelo irmão mais velho, Kensaku, para a pequena escola particular de Seisatsusho Juku, em Tóquio.
Já reconhecido como um excelente estudante, em 1873, Jigoro passou para Ikuei Giguku, uma escola onde cada disciplina era ensinada por professores Europeus, sendo o idioma das lições inglês ou alemão. O ano que passou nesta escola foi muito duro já que era freqüentemente agredido pelos colegas mais velhos e mesmo pelos seus companheiros de quarto.
No ano seguinte, entrou na escola de línguas estrangeiras de Tóquio e, em 1875, inscreveu-se em Kaisei uma escola reservada à elite, que mais tarde seria nomeada Universidade Imperial de Tokyo. Infelizmente para ele também aqui a tradição de agredir e espancar os novos estudantes eram comum.
Um dia, já com 15 anos, ele ouve Nakai Baisei – um antigo membro da guarda pessoal do shogun – dizer que o Ju-jutsu é um excelente método de treino físico. Resolve, pois, pedir a Baisei que lhe ensine esta arte, mas ele recusa, repostando que o Ju-jutsu é uma coisa do passado, completamente inadequado para um menino como ele.
Mas Kano estava firmemente decidido a aprender Ju-jutsu, e assim, em 1877, encontra um pequeno dojô no distrito de Nihonbashi conduzido por Mestre Hachinosuke Fukuda da linha Tenshin Shinyo de Ju-jutsu.
Apesar da sua fraqueza física, cedo se revela um bom estudante de Ju-jutsu e assim, dois anos mais tarde, em 1879, quando se organizou uma demonstração de Budô em honra do presidente Ulysses Grant, dos Estados Unidos, Jigoro Kano foi um dos estudantes escolhidos por Fukuda Sensei para participar. A entusiástica reação do Presidente, afirmando que o Ju-jutsu deveria ser mostrado a todo o mundo, marca profundamente Kano.
Nove dias depois da demonstração, infelizmente, Fukuda Sensei morre. Kano, agora com vinte anos, é nomeado pela família do mestre como o responsável do dojô. Bem ciente da sua inexperiência procura por Iso Sensei -o Mestre que emparceirara com Fukuda Sensei durante a demonstração perante o Presidente Grant – e torna-se seu assistente.
No ano seguinte, durante uma demonstração de Yoshin Ju-jutsu executada na Universidade Imperial de Tokyo, pede para defrontar-se em Randori com Ichimon Tozuka o filho de Mestre Hikosuke Tozuka. Kano sente-se esmagado por algumas das técnicas de Yoshin-ryu Ju-jutsu e apercebe-se que a evolução do Ju-jutsu, não consiste em fixar-se num determinado método ou escola, mas sim em incorporar o que há de melhor em cada um, criando um método inteiramente novo.
Morre o seu Mestre Isso, em Junho 1881. No mês seguinte, Jigoro Kano obtém a sua licenciatura pelo Departamento da Literatura da Universidade de Tóquio e reinscreve-se, logo de seguida, num curso especial anual de filosofia.
Tem de procurar um novo professor de Ju-jutsu, assim, através de uma carta de recomendação, chega a Iikubo Mestre da linhagem Kito-ryu de Ju-jutsu, transformando-se num estudante dessa escola.
Em Fevereiro de 1882, com o acordo de seu mestre, Jigoro Kano, agora com 22 anos, leva consigo nove dos seus mais próximos estudantes do dojô de Kito-ryu, e funda o seu próprio dojô no templo de Eishoji. Duas ou três vezes por semana Iikubo Sensei vai ao templo ajudar a treinar os estudantes de Kano.
Kano batiza o dojô de Kodokan e passa a dedicar-se à formulação de um sistema de Ju-jutsu reformado fundado em princípios científicos, integrando o combate com a instrução mental e física. Do Kito-ryu adota o “katame waza” (técnicas no chão) e o “atemi-waza” (técnicas de projeção), mantendo as técnicas que se conformam aos princípios científicos e rejeitando todas as outras. Todas as técnicas prejudiciais e perigosas também são eliminadas.
Em 1884, são promulgados os Estatutos do Kodokan e Kano declara: “juntando as aptidões que adquiri junto das várias escolas de ju-jutsu, e adicionando meus próprios dispositivos e invenções, fundei um sistema novo para a cultura física treino mental e treino de competição. A este método eu chamo Judô Kodokan”.
A sua paixão pela educação levou-o em 1885, com somente 25 anos de idade, ao lugar de Reitor de Gakushuin. Ali impôs uma disciplina estrita permitindo que os estudantes fossem para somente aos fins de semana, obrigando-os executar tarefas menores e ensinando-lhes humildade. Propôs também um ato revolucionário para a época ao abrir as portas da escola aos comuns. O ambiente interno mudou por completo sob a administração de Kano, e não surpreende que os pais dos estudantes ficassem cheios de admiração pelas maravilhas operadas em Gakushuin.
Naquela época gerou-se uma feroz rivalidade entre os seguidores do Ju-jutsu tradicional e os adeptos do Judô. Porém, em breve, a superioridade do judô se tornaria evidente, especialmente após o Torneio de Artes Marciais de 1886 onde, em 15 encontros com escolas de Ju-jutsu, o Judô Kodokan venceu 12, perdeu dois e empatou um.
Uma vez firmemente estabelecidas às bases do Kodokan, os pensamentos de Kano viraram-se para a propagação do Judô num âmbito nacional e eventualmente por todo o mundo. De fato, Kano embarcou para a sua primeira visita ultramarina em 1889, pelos auspícios do Ministério da Educação, encarregado de efetuar uma investigação sobre a os métodos educativos na Europa e aproveitou para espalhar as novidades sobre o novo desporto japonês – o judô.
Em 1894, um corpo consultivo foi criado, o Conselho do Kodokan. O Kodokan transformou-se oficialmente uma fundação em Maio de 1909. No mesmo ano Jigoro Kano foi eleito como representante Japonês do Comitê Olímpico Internacional.
Em abril de 1911 é criado o Departamento de Formação de Instrutores de judô. Em 1912, Kano tinha feito nada menos que nove viagens para fora do Japão com o objetivo de despertar o interesse pelo novo desporto japonês. Em 1922, foi criada a Associação dos Dan’s do Kodokan.
Em 1926 o judô substitui o Ju-jutsu como disciplina oficial do programa de educação física das escolas japonesas.
Em 1932 é fundada a Sociedade de Investigação Médica em judô. No mesmo ano o Presidente do Município de Tóquio sugere, durante uma visita ao Kodokan, que Tóquio seja sede dos Jogos Olímpicos de 1940. Kano viaja para Los Angeles para participar na 10ª Olimpíada.
Em 1934 o Kodokan comemora o seu 50º aniversário. No mesmo ano Jigoro Kano visita Paris para encontrar-se com membros do COI para discutir a
oferta de Tóquio para hospedar os Jogos Olímpicos de 1940.
Em 1935 Kano recebe o prêmio Asahi para contribuições proeminentes nos campos da arte, ciência e desporto. Três anos mais tarde participa numa reunião do COI, que ocorre no Cairo, e consegue que Tóquio seja aceite como local para a realização das Olimpíadas de 1940 nas quais o judô deveria ser incluído primeira vez como um das modalidades.
No regresso dessa conferência a bordo os SS Hikawa Maru, contrai uma pneumonia e morre a quatro de Maio de 1938, com 78 anos.
A introdução do Judô no Brasil
A imigração japonesa foi o fator mais importante para o surgimento do judô no Brasil. A influência exercida por lutadores profissionais representantes de diversas escolas de ju-jutsu japonês também contribuiu para o desenvolvimento do judô. O início do judô no Brasil ocorreu sem instituições organizadoras. Apenas na década de 1920 e início dos anos 1930 chegaram ao Brasil os imigrantes que conseguiram organizar as práticas do judô e kendô no país. Em São Paulo, destaque para Tatsuo Okoshi (1924), Katsutoshi Naito (1929), Tokuzo Terazaki (1929 em Belém e 1933 em São Paulo), Yassuishi Ono (1928), Sobei Tani (1931) e Ryuzo Ogawa (1934). Takaji Saigo e Geo Omori, ambos com vínculo na Kodokan, chegaram a abrir academias em São Paulo na década de 1920, porém, essa atividade não teve continuidade. Na década de 1930 Omori foi instrutor na Associação Cristã de Moços no Rio de Janeiro e, posteriormente, se radicou em Minas Gerais. No norte do Paraná, nas cidades de Assaí, Uraí e Londrina, o judô deu seus primeiros passos com Sadai Ishihara (1932) e Shunzo Shimada (1935). Os primeiros professores a chegarem ao Rio de Janeiro, foram Masami Ogino (1934), Takeo Yano (1931), Yoshimasa Nagashima (1935-6 em São Paulo e 1950 no Rio de Janeiro) e Geo Omori, vindo de São Paulo (1930 aproximadamente).
A chegada dos primeiros professores-lutadores também deixou o seu legado. Dentre os pioneiros se destacaram, Mitsuyo Maeda e Soishiro (Shinjiro) Satake, alunos de Jigoro Kano. Eisei Mitsuyo Maeda, também chamado Conde Koma, chegou ao Brasil em 14 de novembro de 1914, entrando no país por Porto Alegre. Junto com ele chegaram Satake, Laku, Okura e Shimisu. Em 18 de dezembro de 1915 a trupe de lutadores chegou a Manaus, mas antes disso rodou o Brasil em demonstrações e desafios. Conde Koma se radicou em Belém do Pará, em 1921, enquanto Satake ficou em Manaus, onde ministrava aulas no Bairro da Cachoeirinha ainda na década de 20. Maeda fundou sua primeira academia de judô no Brasil no Clube do Remo, bairro da cidade velha. A contribuição dos imigrantes japoneses que divulgaram o judô parece ter sido mais importante do que a contribuição de Conde Koma, e seus companheiros lutadores. Da chegada do Kasato Maru ao Brasil (1908) até a Segunda Guerra Mundial, os nomes e as práticas se confundiam. Encontra-se na literatura judô, jiu-do, jujutsu, jiu-jitsu e ainda jiu-jitsu Kano, muitas vezes para designar a mesma prática. A institucionalização do esporte, inicialmente organizada pela colônia japonesa, depois sob o controle da Confederação Brasileira de Pugilismo e finalmente a criação da Confederação Brasileira de Judô foram os passos para a diferenciação das práticas de luta e a organização do judô no país.
Filosofia do Judô
A aquisição das qualidades necessárias ao judô têm como alicerce os três princípios filosóficos definidos por Jigoro kano que, como ditado por ele mesmo evidenciam a principal diferença entre o JUDÔ KODOKAN e o antigo Jujitsu : " o Judô pode ser resumido como a elevação de uma simples técnica a um principio de viver" (Jitsu = técnica; Do = princípio). Esses princípios, mesmo não sendo conscientemente esclarecidos e compreendidos, estão presentes em todos os atos e atividades do praticante de judô. Por outro lado, quando o praticante tiver fixado e tomar consciência dos princípios que norteiam o judô, pode-se verificar que não são restritos ao Dojô, mas são igualmente válidos em qualquer atividade da vida diária, quando se pretende atingir um determinado objetivo.
Os três princípios do judô são :
JU = suavidade
SEIRYOKU-ZEN-YO = máxima eficiência com mínimo esforço
JITA-KYOEI = bem estar e benefícios mútuos
O princípio da máxima eficiência é aplicado à elevação ou à perfeição do espírito e do corpo na ciência do ataque e da defesa, exige primeiramente ordem e harmonia de todos os membros de uma coletividade e isto pode ser atingido com o auxílio e as concessões entre si para atingir a prosperidade e os benefícios mútuos.O espírito final do judô, por conseguinte, é de incutir no íntimo do homem o respeito pelos princípios da máxima eficiência, da prosperidade e benefícios mútuos e da suavidade, para poder atingir, individualmente e coletivamente seus estados mais elevados e ao mesmo tempo mais desenvolvidos na arte de ataque e defesa.O professor Kano afirma o seguinte: "Ainda que eu considere o Judô dualisticamente, a prosperidade e benefícios mútuos pode ser vista como sua finalidade última e a máxima eficiência como meio para atingir esse fim. Essas doutrinas são aplicáveis a todas as condutas do ser humano".
Máximas do Judô
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Conhecer-se é dominar-se. Dominar-se é triunfar
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Quem teme perder, já está vencido
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Somente se aproxima da perfeição, quem a procura com constância, sabedoria e sobretudo com humildade
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Quando verificares, com tristeza, que não sabes nada, terás feito o seu primeiro progresso no aprendizado
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Nunca te orgulhes de ter vencido a um adversário; ao que venceste hoje, poderá derrotar-te amanhã
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A vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância
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O judoca é o que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinam, paciência para ensinar aquilo o que aprendeu aos seus semelhantes, e fé para acreditar naquilo que não compreende
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Saber cada dia um pouco mais e usá-lo todos os dias para o bem, esse é o caminho dos verdadeiros judocas
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Quem não vive para servir não serve para viver
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Determinação, vontade, força, paciência, esperança, raça e garra são fatores para vencer, não apenas no judô, mas em qualquer outra situação na vida
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É o lutador quem faz a luta, e não a luta quem faz o lutador
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Praticar Judô é ensinar a inteligência a pensar com velocidade e exatidão, bem como a obedecer com justeza. O corpo é uma ferramenta cuja eficiência depende da precisão com que se usa a inteligência
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Para alcançarmos a perfeição necessitamos uma dose de treinamento, duas doses de sabedoria e quatro doses de humildade.
Contagem em Japonês
1 - It 2 – Ni3 – San4 – Shi5 – Go6 – Roku7 – Shiti8 – Hati9 – Kyu10 - Dyu
11 – Dyu it12 – Dyu ni13 – Dyu san14 – Dyu shi15 – Dyu GO 16 – Dyu roku17 – Dyu shiti
18 – Dyu hati 19 – Dyu kyu20 – Ni dyu21 – Ni dyu it32 – San dyu ni40 – Yon dyu (e não Shi dyu)54 – Go dyu shi 65 – Roku dyu GO 70 – Nana dyu (e não Shiti dyu)76 – Nana dyu roku87 – Hati dyu shiti98 – Kyu dyu hati100 – Raku dyu